sexta-feira, setembro 23, 2011

_5.0


Dizem que quem nasce nos domingos de sol é vaidoso, alegre, barulhento. Não sei se é verdade. Sei que sou vaidosa sim, que passei 90% desses 50 anos sorrindo e que já fui bem mais barulhenta do que sou hoje. Ultimamente gosto de ficar quieta e às vezes nem estou a fim de conversa. Mas há um barulho intenso dentro de mim, 24 horas por dia, sete dias por semana, desde  sempre. E sol.

Em outros 90% dessa minha vida estive triste. Não triste triste. Triste...triste. Só lá no fundo, numa outra vida imaginária que quase ninguém conhece. Espera...NINGUÉM conhece!
É lá que eu vou buscar poesia quando preciso, porque não é possível escrever feliz. Não pra mim. Existem coisas que escrevo que são de uma tristeza mais profunda do que a profundidade em si, mas nem é verdade, embora seja. Dá pra entender? Provavelmente não. Mas se eu não convivesse com essa dor que não existe, jamais escreveria uma linha. Nem as obscuras nem as felizes. Então não me dê remédio, não me trate, não me mande para a terapia, porque não existe remédio melhor do que ler o que sai de mim, mesmo que eu jogue fora depois. É o meu falar sozinha, é o meu falar com deus. 
É, eu sei...de perto ninguém é normal. Não eu.
75% dos meus dias foram de paixão arrasadora. Ou mais: mais que 75, mais que arrasadora. Me apaixonei pelos outros, por mim, pelas coisas, fui obsessiva, fui maluca, fui inconsequente, assustadora. Fiz coisas talvez codenáveis, se é que é possível condenar o amor em qualquer de suas formas. Se for, sou culpada, aceito, confesso sem a menor vergonha na cara, porque é assim que eu sou 100% do tempo.

32% dos dias de sol eu sorri. 99,9% dos de primavera eu sonhei acordada. 87,2% dos dias de chuva eu chorei.

É quando a tristeza me toma de assalto que minha vida imaginária acontece, e ah! não me faça rir porque eu não quero! Me deixa sofrer por nada. Me deixa descabelar as madeixas e me jogar na cama só hoje...só pra cozinhar essa tristeza boa, porque a vida é chata sem ela, porque ser feliz pode virar rotina e toda rotina torna-se um nada. É preciso enxergar a felicidade, então deixa chover em mim...deixa eu chover no mundo.
Mas a dor em mim dura pouco...eu canso. Passou.
40% dos meus dias eu trabalhei. Meu nome foi trabalho durante quase toda uma vida, até meu nome se tornar família, não por vontade própria, mas por pura birra. Sim...as pessoas que nascem nos domingos de sol são teimosas, odeiam ser contrariadas e conseguem ressurgir das cinzas só pra contrariar de volta. Eu trabalhei 15 horas por dia dos 18 aos 40, - e menos um pouco desde os 13 - porque precisava, porque queria e parei  só pra não dar o braço a torcer. Long story... Mas aí que recomeçar é o que eu sei fazer melhor, em qualquer território. Então por que não? Funcionou.

65% da minha vida profissional foi criar. Criar pelos outros, criar os outros, arrumar a criação dos outros, criar um mercado, criar diretores, criar laços, criar problema (oops)...criar. Criei condições de trabalho onde não existia. Criei pupilos e ensinei até quando não sabia que estava ensinando. E eles cresceram. Cada um deles era um mini-príncipe encantado ou uma princesinha perdida e todos viraram reis e rainhas enquanto eu, rainha mãe, os via crescer orgulhosa. Também criei meus filhos e meu marido  - ele mesmo criado por mim em várias áreas da vida, agora está me criando - e meio que terminei de criar meus pais e meus sogros. Agora sigo criando formas de recriar a minha própria vida.

73% desses anos eu questionei a existência de deus na forma que conhecemos. Questionei a Bíblia, o Torah, todas as versões e traduções dos textos sagrados, fiquei de mau com a igreja e com a humanidade, mas rezei. Aprendi a rezar do meu jeito pra um deus que eu entendi e pra Santa Rita,  Maria Padilha, Iansã e para as forças que aprendi a dominar dentro de mim. Aprendi que o bem e o mau são a mesma mão e a minha é parte disso, como a sua, não importa de que lado você ache que está. Já soube ler tarot, já aprendi kabalah, já dominei os cristais, já purifiquei coisas e pessoas que precisavam, e já esqueci como fazer tudo isso. Já salvei casamentos e aliviei angústias. Fui chamada de bruxa mais vezes do que gostaria, mas a verdade é bem mais simples: aprendi que as palavras têm força. Aí evitei as que não gosto, procurei outras - novas - para proteger os meus de um mundo que pode ser cruel, quando me distraio. Aprendi a confiar no destino e a modificá-lo dentro das minhas limitações - que são muitas quando me sinto fraca, e nenhuma quando estou feliz -. E respeitei a lei do retorno. Aprendi que é aqui e agora que nasce e cresce o que a gente planta. E durante 80% do meu tempo, planto coisas que você nem vê...mas elas crescem.

94% dos dias, fui grata. Grata pelas minhas escolhas, grata pelas minhas pessoas, grata até pelos meus erros.
Entendi que não tem como dar errado quando você faz as coisas por intuição. Segui as reviravoltas do meu estômago, derrubei meus castelos e construi outros, milhares de vezes, porque achava que daria certo e, mesmo não dando, deu...ou eu que sou iludida. Mas fui feliz. Funciona assim: se fui feliz deu certo. End of story.
Não aprendi matemática (talvez você note, pelos percentuais aí em cima) mas entendi a vida. É que quantidade, assim como tempo e espaço, é uma coisa relativa e mutável – na minha matemática.
Que tipo de vida besta soma só 100%?  Tão lógica...tão banal... não serve pra mim.

O exagero, este sim, guarda a totalidade das coisas que eu sinto. Só ele pode definir a minha vida: um exagero de vida, um transbordar de tudo. Esse sem número de acontecimentos que até eu duvido...um eterno “despencar na cabeça” de vida.

É assim que é: 50 anos de vida despencando na cabeça e transbordando em milhares de histórias indescritíveis, quase todos os dias, em todos os planos da vida: no real e no imaginário. Ou eu, que sou irresponsável, entendo assim.

Em resumo...schlevers por cento da minha vida eu fui feliz, mesmo quando não fui.

Tem sido bom demais.

E faz sol.


Amanhã, 24 de Setembro de 2011, eu faço 50 anos. And inside, I'm dancing.

15 comentários:

Rafaela Pedro disse...

Mê, sua matemática é exata! Tem que ser!
Parabéns pelo texto e pelas lições de vida que você sempre dá.
Schlevers felicidades para você!
(mas parabéns, mesmo, só amanhã! :P)

beijo!

mrkloss disse...

Só lembro da Meti, amiga da Silvia, minha irmã!mas tão querida que me associei a essa amizade! Silvia mora muito longe, mas nunca consegui esquecer as pessoas que são importantes para mim naquela época difícil da adolescência. Também não sou boa em matemática, mas tenho certeza que você, pela pessoa que é, deve ter acertado 99,99% das vezes! Seja feliz! Tenho saudades! Beijos! Marcia!!

Talita Agria disse...

Mê, fazia um tempinho que não passava aqui... e é bom constatar que algumas coisas não mudam, como a qualidade e a criatividade de seus textos.

Sim, vc vivenciou muitas coisas: compartilhou segredos com estranhos (sim, um dia eu fui uma estranha, hahaha), transformou estranhos em amigos, e protegeu estes novos amigos como uma leoa protege seus filhotes.

Ouviu amigos, animou amigos, deu risada com amigos, contou suas estórias e aventuras a esses amigos. Parece coisa de gente louca ser amiga de quem sequer encontrou pessoalmente - uma amiga virtual. Mas quem disse que nós queremos ser normais? Preferimos ser essa metamorfose ambulante, kkk.

Muitas foram nossas conversas noite afora no msn, fase ruim para mim, e recebi força de uma estranha (será?) muito querida. E sou muito grata por isso. Muito obrigada!

Mais 50 anos de luz para vc, para que vc continue a iluminar tantas vidas com suas doces e engraçadas palavras. Um beijo!

Anônimo disse...

Que você seja sempre 100% mais schlevers feliz pra toda vida.

Adorei o texto.

Mais 50? Se for isso que vc quer. Mas muitas, todas as coisas boas da vida pra vc.

Mil beijos...mas aqui e hoje não vale. Amanhã vc ganha o parabéns oficial.

Te amo.
Pat

Mercedes disse...

Rafa: você era princesinha perdida e virou rainha. :) Amo demais, você sabe.

Márcia: chorei ne? Não ta certo voltar aqui - fora da adolescência - e fazer isso comigo. Adorei você me lendo, amei saber que fui importante pra você,porque você também foi pra mim e aquele foi um tempo incrível que eu lembro com muito carinho...

Talita, sua estranha louca que aceitou de braços abertos o apoio de uma desconhecida metida que caiu de paraquedas na sua vida!
Lembro com o maior carinho das nossas madrugadas. E adoro quando vejo que você está super bem. E linda!

Pat. Schlevers anos é mais do que suficiente. hahaha. Vou ficar esperando os parabéns. Também te amo.

Beijo suas lindas.

Edson Perin disse...

Vc é meu ídolo...sempre foi. Adoro teus vôos, tuas loucuras, tua sanidade e tua insanidade. Eu que sempre fui mais pra calmaria sempre me realizei um pouco por transferência. Vc teve e tem uma vida linda, uma família linda, uma história grande e sempre sábias palavras. Ah...e adoro quando vc me chama de Mano. Lov u

Jô Bibas disse...

Fiz 50 no ano passado e saí festeando, sem parar muito para pensar. Mas se tivesse pensado, sairia muito parecido com isso tudo que você mostrou. Vida intensa. Bom ler.
Felicidades. E tristezas, para poder reconhecer as primeiras.
BJô

Jacqueline disse...

Dona Meg, como sempre tudo o que você escreve toca fundo no meu coração. Por isso, nem venho muito aqui porque às vezes me tira do eixo...
Mas hoje nao pude deixar de ler este texto primoroso, que é a sua cara (ou o que eu conheço dela), e fico muito feliz e ver que nao sou só eu que acha felicidade absoluta é um porre, porque é assim que se vive feliz: quando nao estamos a procura dela...
Desejo a você um delicioso aniversario. E que sua vida continue matematicamente uma confusão de sentimentos e realizações.
Beijos
Jacque

Mercedes disse...

Obrigada, Jaque. Não existe desejo mais bem vindo.

Jô...eu sempre achei você a minha cara, ou eu a sua, não sei. Eu tenho certeza absoluta que você sabe viver. :)

Beijos

Ah...li uma matéria onde o Clint Eastwood disse que "A velhice é libertadora".
Não sei se a velhice é, porque ainda falta um tanto pra chegar nela. Mas a maturidade é.

Anônimo disse...

Mais uma vez parabéns pelo seu dia.
E obrigada pelas lições que aprendo lendo vc.
Beijão, Edi

Anne disse...

And so, pq pra mim e então é vago e soa mal, é seu aniversário. 50 que na minha concepção nem parecem 20...

Pouco nos vemos, pouco conversamos in fact, mas a sensação que eu tenho é que eu te conheço há milênios (talvez pq eu conheça mesmo!) e agradecer por isso, pela inspiração dos textos que já me fizeram rir e chorar faz parte do cotidiano. Acho que das lições que eu ja aprendi com vc, aceitar, acreditar e me entregar a tudo o que me faz bem são as principais.

Como em Benjamin Button, some people just dance... And that's what you do with your life... You dance, with your words, with your ideas and your own way to see life.

Aproveita, tudo, pq se a lei do retorno é de fato material, ela se materializa pra vc. Tudo é seu de direito e por merecimento.

Felicidade, alegria e num momento meio hippie good vibrations... É o que eu desejo.

Keep going!

bjos

Marina Pavelosk Migliacci disse...

10000% sensacional. Seus posts de aniversário são sempre assim.

E com a vontade de comemorar com você, meu presente está a caminho e deseja ser uma lembrança não só minha, mas de parte da sua vida que ajudou a construir uma Mercedes inteira. Feliz aniversário! Um ótimo ano novo a você!

Beijão!

Mercedes disse...

Ai ai ai se curiosidade emagrecesse eu estaria uma Giselle agora!!

Obrigada Mariana querida.

<3

hell disse...

eu me sinto princesinha perdida por tabela, já q eu fui cria da rafa e te dizer q desde q eu te conheci, eu fiz muita coisa q eu nao teria coragem, pensando q eu queria ser assim, cheia de emoçoes malucas q nem tu, te amo.

Anônimo disse...

Quanta gente viveu estes percentuais contigo em cada virgula literalmente heim? Fantastico! Mas duas coisas gostaria de compartilhar hoje: não me lembro se chovia no dia 15 de maio de 2010, mas o sorriso dela hoje nesta linda sexta ensolarada curitibana (acreditem!), foi maravilhoso