terça-feira, julho 12, 2011

_socorro!

 
foto: a chegada do godzilla
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(Sobre como me tornei um monstrengo)

Nunca vi nada tão feio na vida! Juro!
Há alguns dias, minha filha me disse que eu tenho andado muito desarrumada:"você nunca foi assim, Mãe..."
É verdade. A carinha dela dizendo isso me deixou mexida. Quer dizer...me deixou envergonhada. Mas não tem jeito, gente, sério.
Eu me mudei. Mas assim, não foi uma mudança igual às quase 30 que eu fiz no decorrer da vida. Eu me mudei pra minha própria casa, o que é lindo, mas com cheiro e restos da obra, o que não é nada lindo. Teve toda aquela ilusão de que a gente só se mudaria com tudo pronto e cheirosinho, mas como todas as outras ilusões da vida, era mentira. Cá estamos.
Antes da mudança, tive um ataque de desapego e me livrei de 50% das minhas roupas. Outra ilusão. "Nunca mais vou querer isso", pensei, como se mudar de casa mudasse o gosto ou a quantidade de roupas que alguém usa. E o que sobrou? As roupas de gorda, claro: blusas largas e leggins e casacos desmilinguidos. Aff. Mas isso não é tudo. O homem é fruto do meio, certo? Então...pensa no meu meio: pedreiros, pintores, encanadores, faxineiras, jardineiros. Gente linda! Só gente linda!
O resultado disso é que eu estou um horror. Não, não assim como você pensou. Nem você, que me conhece e sabe dos meus exageros. Não! Pior. Muito pior.
Faz quase três semanas que estou aqui e ainda não tem espelho no meu banheiro. Tem no closet, mas não no banheiro. Agora me conta, quando você realmente se olha no espelho? Sim, quando lava o rosto, escova os dentes, seca o cabelo. Cabelo? Não vamos falar de cabelo. Todos os meus antepassados estão gritando! A parte frontal da minha cabeça é a filial da África. Tudo num laranja "eu-pinto-meu-cabelo-em-casa-com-a-tinta-errada"...uma lindura.
E meus dias têm sido super agradáveis.
Acordo as 7:30 com a portaria me ligando para anunciar a chegada do Tonho pedreiro. Bom dia!
Nos próximos 30 minutos posso cochilar um poquinho, mas bem pouquinho, porque chega o Francisco - o paisagista peão - com um exército de jardineiros feios vestidos de verde, com nomes como Gileno, Gildásio, e uns doze Franciscos. O Francisco chefe é um amor, delicadíssimo, atencioso a ponto de te fazer pensar que o mundo é lindo, mas tem um megafone na garganta e fala com o exército verde debaixo da minha janela. Bom dia! (A propósito, o jardim está lindo).
Depois começam os sons internos. Os pintores invadem a casa, e conversam. Um deles canta. As vozes se misturam aos sons de fora: o radinho de pilha do gileno, o pedreiro levantando o muro, outro colocando a tela dos fundos, o eletricista e o assitente conversando mais alto do que a furadeira , os marceneiros montando a estante da sala, e o diabo em pessoa rindo da minha cara em algum lugar do inferno.
Lembra daquela mulher que levantava com o famigerado roupão pink, sentava para tomar uma dúzia de xícaras de café lendo o jornal? Esquece. Morreu. Agora ela levanta, toma banho, veste uma coisa (sim, uma coisa), prende o cabelo e a áfrica inteira para trás e vai tomar café no banquinho da cozinha (preta e linda), porque não dá pra levantar de pijama, nem tomar café na sala com 3 pintores olhando e mais um monte de neguinho passando. Ah! Mencionei que os móveis da sala estão cobertos com plástico e tem papelão no chão por tudo? Não...detalhe sem importância.
Poeira...poeira na alma, nas narinas, em tudo.
Hoje istalaram um espelho de aumento no meu banheiro (o grande não chegou  ainda e não me pergunte porque) e eu fui testá-lo. Ele tem luz sabe? E aumenta. E eu me deparei com uma ogra descabelada com a sobrancelha ídem. Céus...alguém me roubou de mim!
Mas voltemos à rotina do dia: durante as horas em que o sol está brilhando, escuto meu nome sendo chamado em várias línguas: baianês, alagoês, caipirês, para resolver coisas never dantes imagináveis e atender pessoas tipo o instalador da bomba, o caminhão da caçamba, o vendedor de caixa de correio, o moço dos vidros, o do corrimão, o da pedra, o entregador de andaime. Recebo notícias do tipo: tá escorrendo água pela luminária do corredor porque a marcenaria furou o cano quando foi instalar o não sei o que do banheiro. Ha! Isso enquanto o eletricista liga e desliga coisas para testar a caixa de luz e faz meu computador enlouquecer. E tem as contas. E tem o telefone que não para. E tem a poeira. E tem a lama.
Aí o sol se põe maravilhoso num céu incrível que aqui em cima - sorry - é muito mais incrível do que o céu mais incrível que você pode ver aí embaixo, e o silêncio começa a predominar. Escuto uma última porta bater e um último "até amanhã, Dona Mercedes"...e a casa parece ser minha, finalmente. Só que já é hora de pensar no jantar, depois conversar um pouco e descobrir que o sofá está branco de poeira  e o vidro do corredor tem uma fresta que precisa ser siliconada, e que a água do banho não está tão quente quanto o tio do aquecedor prometeu, e que é hora de dormir.
Assim acaba o dia, para amanhã às sete e meia o telefone tocar, e o pastor evangélico começar a berrar no rádio de pilha do Gileno, e o Francisco e seu megafone...Aí eu não tenho mais roupa ou tempo de ir comprar. E meu cabelo continua amarelo-ôvo-socorro. E minhas unhas estão um horror. E não me convide para sair porque eu não posso aparecer em público.

Era isso. Eu precisava dividir toda essa baderna com alguém.
Agora vou voltar pra caverna.
Beijo.