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Estou com os dedos pretos de poeira, desmontando minha sala para a mudança que não tarda. Encontrei cadernos antigos, consequentemente textos antigos, cartas que nunca foram entregues, poemas perdidos.
Um deles é irresitível, porque me lembro (não eu nunca lembro) da noite em que escrevi.
_tempestade, outra vez
houve outra noite de tempestade.
eu, dominada pelo que fui
e não posso deixar de ser,
corri para fora
no meio da noite
e abri os braços para tocar os raios.
o céu e eu éramos um
(raios e braços,
água e olhos,
vento e respiração)
relâmpago girando pelo jardim -
foi outra vez assim.
depois dessa noite
veio de novo o destino brincar comigo.
convidou-me outra vez a dançar,
em volta do fogo,
a dança que muda tudo.
em volta do fogo o corpo se lembra:
a velha feiticeira é livre.
eu danço
confusa e encantada.
6 julho 1992
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