sexta-feira, junho 18, 2010

_um beijo na janela

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Tanta luz...
O sol vinha da direção errada e batia no meu corpo esquentando a pele em lugares que eu nunca senti. Não era a minha casa...não era.
Abri os olhos para encontrar a luz e não entendi de onde ela vinha. Não era do alto, não era de fora, era de mim.
Andei pelo lugar com cuidado. “Não conheço esse chão, não sei onde ele leva.” Tive medo. “Eu já quis estar aqui mas recuei. Agora me lembro...”

Lençóis brancos na cama - os mesmos lençóis voando no varal -, minha cabeça rodando e toda aquela luz...Eu sabia que era preciso chegar até a janela. E lá estava ela, no final do corredor, toda aberta, com suas cortinas enormes, como asas, mostrando que a casa inteira queria voar.
São sempre as janelas, são sempre elas.
Dei mais três passos:
1...2...3...e senti a  fumaça doce no ar. Eu sabia. Fechei os olhos sorrindo, respirei o mais fundo que pude e traguei a doce névoa branca do cigarro aceso. Era bom, mesmo assim tão cedo. Mesmo assim descalça, perdida, com olhos cheios de luz. O desenho da fumaça me mostrava onde ir: além da janela, em direção ao perigo.
O sol esquentava os meus pés querendo chamar: “vem...” Eu fui.
As asas abertas da grande janela me envolveram como mãos e guiaram o meu último passo. 
Não fechei os olhos - eu queria ver dentro da alma quando ele me tocasse -. 
E foi assim que eu vi os olhos que me esperavam...as mãos quentes pesquisando o corpo, a barba  roçando o pescoço, o calor sussurrado no ouvido...o beijo molhado na boca.


Bons sonhos.

2 comentários:

Marina Pavelosk Migliacci disse...

seu texto é cinematográfico. adoro. beijos

Fabio Piva disse...

Faço as da Mari Migliacci minhas palavras. Texto inspiradíssimo! :)