Deixa eu contar que toda vez que eu encho o saco da minha filha dizendo que ela precisa assistir filmes de adulto, parar de ouvir musiquinha pop, jogar fora os DVDs de "High School" filmes, no minuto seguinte me bate um tremendo remorso...
Ah...amnésia materna! Esqueci que até os 17 anos eu era uma boboca pop sonhadora que gostava de filminho adolescente, não tinha estilo definido e não sabia quem eu era. Hey! Mas eu ERA adolescente! Foi aos 17 que arrumei um namorado intelectual-estudante-de-arquitetura-dos-anos-70-comunista, e a minha fama de intelectual começou. Sim, claro! Ele me ensinou coisas que pai e mãe não devem ensinar (uia!) e o convívio com ele modificou muita coisa em mim. Pena que hoje, após se tornar um pai de família e ter lá seus 50 anos, ele não passe de uma pessoa mediana, chata, moralista e...lógico...com amnésia!
Ter namorado esse moço me rendeu o estígma de "intelectual da família". Depois eu entrei fundo no mundo da publicidade e tudo se perdeu de uma vez: namorei outros QI's superiores, fui obrigada (entre aspas) a conhecer outro mundo, assistir Buñuel, Fassbinder, Win Wenders, Fellini, Saura, Bergman, mergulhar no mundo da arte, mudar o gosto musical, ouvir mais Jazz, mais Blues, mais bandas e poetas revoltosos, donos das mudanças do mundo.
Nada disso doeu porque nada disso foi forçado. Assim como o meio termo libriano também não é forçado.
Eu explico: não existe nada mais complicado para mim do que a NÃO MUDANÇA. Assumir um lugar do lado de lá do muro seria a pior das dores pra mim. Como assim eu vou ficar do lado de cá sem saber o que tem do lado de lá? Eu preciso das duas coisas. Sempre foi assim. Passei grande parte da vida entre dois lados - não em cima do muro -. Eu era normal demais para andar com os malucos, maluca demais para andar com os nerds. Numa briga tem sempre dois lados, na beleza também, nos tipos de inteligência que as pessoas têm, em tudo...tudo tem dois lados e você está certo por um lado, mas ele está certo pelo outro e so it goes...Assim sou eu: eternamente vendo o que tem de bom em cada coisa, o que faz com que nada seja de todo ruim.
Well, mas voltemos à intelectualidade. Ela é linda! Ver o mundo pelos olhos de quem pensa diferente é maravilhoso, se fosse realmente assim. Porque a verdade é que, assim como a ignorância, a intelectualidade aprisiona. Cria opiniões formadas e preconceitos: você vê novela? É medíocre. Você gosta de RAP? Ui...que irritante. Você gosta de comédia romântica, não gosta de Caetano Veloso, acha que o Chico canta mal, detesta filme de arte? Ui...que ignorante!
Ignorante my ass! Que LIVRE você é! Que liberdade maravilhosa poder achar o Caetano Veloso um chato e dizer isso mesmo vendo o nariz torcido de quem esquece de se questionar há milênios. E amar Bergman. Que delícia perder uma tarde vendo filme da Meg Ryan anos 80, escapista, bonitinho! Que delicioso devorar os quatro livros da série Twilight e se apaixonar pelo Edward Cullen com toda a sua alma! (e a minha também)
Ah, que mediana eu sou! Deus salve a mediocridade se ela me der tanto prazer! Deus salve a minha cultura quando eu andar por Barcelona e chorar dentro da Sagrada Familia. Deus continue me dando discernimento para saber o que é ruim e o que é profundamente agradável aos olhos e ao coração, mesmo que seja uma obra consagrada. Que eu continue sabendo que os críticos da Folha de São Paulo são uns recalcados sem noção que acham MESMO que "Se eu Fosse Você 2" é melhor do que "Quem Quer ser um Milionário" ou "Benjamin Button". Ah! Deus conserve a minha ignorância!
E tudo isso foi só pra dizer pra minha filha ficar tranquila, porque vai chegar o dia que ela vai descobrir o outro mundo - o mundo mais complicado. E vai chegar o dia dela crescer e ter opiniões inflamadas, e namorados revoltados, e grupos de discussão sobre o destino da humanidade, etc etc etc...mas tem tempo, Natasha. Aproveita enquanto tudo é perdoável. A adolescência já é cruel demais sem a prisão da intelectualidade. Ou a sua liberdade.
E no fim das contas, veja por mim, o Raul Seixas é quem tinha razão: bom mesmo é ser essa metamorfose ambulante.
Me larga! Eu sou livre.
Um beijo amigo no seu umbigo intelectualóide.
Ah...amnésia materna! Esqueci que até os 17 anos eu era uma boboca pop sonhadora que gostava de filminho adolescente, não tinha estilo definido e não sabia quem eu era. Hey! Mas eu ERA adolescente! Foi aos 17 que arrumei um namorado intelectual-estudante-de-arquitetura-dos-anos-70-comunista, e a minha fama de intelectual começou. Sim, claro! Ele me ensinou coisas que pai e mãe não devem ensinar (uia!) e o convívio com ele modificou muita coisa em mim. Pena que hoje, após se tornar um pai de família e ter lá seus 50 anos, ele não passe de uma pessoa mediana, chata, moralista e...lógico...com amnésia!
Ter namorado esse moço me rendeu o estígma de "intelectual da família". Depois eu entrei fundo no mundo da publicidade e tudo se perdeu de uma vez: namorei outros QI's superiores, fui obrigada (entre aspas) a conhecer outro mundo, assistir Buñuel, Fassbinder, Win Wenders, Fellini, Saura, Bergman, mergulhar no mundo da arte, mudar o gosto musical, ouvir mais Jazz, mais Blues, mais bandas e poetas revoltosos, donos das mudanças do mundo.
Nada disso doeu porque nada disso foi forçado. Assim como o meio termo libriano também não é forçado.
Eu explico: não existe nada mais complicado para mim do que a NÃO MUDANÇA. Assumir um lugar do lado de lá do muro seria a pior das dores pra mim. Como assim eu vou ficar do lado de cá sem saber o que tem do lado de lá? Eu preciso das duas coisas. Sempre foi assim. Passei grande parte da vida entre dois lados - não em cima do muro -. Eu era normal demais para andar com os malucos, maluca demais para andar com os nerds. Numa briga tem sempre dois lados, na beleza também, nos tipos de inteligência que as pessoas têm, em tudo...tudo tem dois lados e você está certo por um lado, mas ele está certo pelo outro e so it goes...Assim sou eu: eternamente vendo o que tem de bom em cada coisa, o que faz com que nada seja de todo ruim.
Well, mas voltemos à intelectualidade. Ela é linda! Ver o mundo pelos olhos de quem pensa diferente é maravilhoso, se fosse realmente assim. Porque a verdade é que, assim como a ignorância, a intelectualidade aprisiona. Cria opiniões formadas e preconceitos: você vê novela? É medíocre. Você gosta de RAP? Ui...que irritante. Você gosta de comédia romântica, não gosta de Caetano Veloso, acha que o Chico canta mal, detesta filme de arte? Ui...que ignorante!
Ignorante my ass! Que LIVRE você é! Que liberdade maravilhosa poder achar o Caetano Veloso um chato e dizer isso mesmo vendo o nariz torcido de quem esquece de se questionar há milênios. E amar Bergman. Que delícia perder uma tarde vendo filme da Meg Ryan anos 80, escapista, bonitinho! Que delicioso devorar os quatro livros da série Twilight e se apaixonar pelo Edward Cullen com toda a sua alma! (e a minha também)
Ah, que mediana eu sou! Deus salve a mediocridade se ela me der tanto prazer! Deus salve a minha cultura quando eu andar por Barcelona e chorar dentro da Sagrada Familia. Deus continue me dando discernimento para saber o que é ruim e o que é profundamente agradável aos olhos e ao coração, mesmo que seja uma obra consagrada. Que eu continue sabendo que os críticos da Folha de São Paulo são uns recalcados sem noção que acham MESMO que "Se eu Fosse Você 2" é melhor do que "Quem Quer ser um Milionário" ou "Benjamin Button". Ah! Deus conserve a minha ignorância!
E tudo isso foi só pra dizer pra minha filha ficar tranquila, porque vai chegar o dia que ela vai descobrir o outro mundo - o mundo mais complicado. E vai chegar o dia dela crescer e ter opiniões inflamadas, e namorados revoltados, e grupos de discussão sobre o destino da humanidade, etc etc etc...mas tem tempo, Natasha. Aproveita enquanto tudo é perdoável. A adolescência já é cruel demais sem a prisão da intelectualidade. Ou a sua liberdade.
E no fim das contas, veja por mim, o Raul Seixas é quem tinha razão: bom mesmo é ser essa metamorfose ambulante.
Me larga! Eu sou livre.
Um beijo amigo no seu umbigo intelectualóide.
13 comentários:
I'm with ya! ;)
(que comentario fraco hahaha)
Vida longa ao High School Musical! Conteúdo de cu é rola, eu sempre encho a boca pra dizer isso. As pessoas adoram falar o quanto mainsteam é podre e que bom mesmo são aquelas músicas em que você dorme e aqueles filmes em que se tem certeza de que o autor esqueceu de fazer o final (mas que eles dizem: NOOOOOOOOSSA, aquele filme te faz PENSAR.) Reaproveitando o que ouvi a Rita Lee dizer um dia: se certas coisas fazem TANTO sucesso com a geral, não é possível que seja assim TÃO ruim - e eu certamente não estou acima disso. Não estou falando que Calypso é 10 (e particularmente eu gosto, vc sabe huahauua), mas pelo amor de deus. Existem ótimos filmes de Hollywood e é regra a "nata intelectual" esfregar cocô neles sempre que possível, sendo o filme ótimo ou uma porcaria.
Pra que isso?
O que essa gente ganha torcendo deliberadamente o nariz?
Se o cidadão for inteligente, tiver gosto próprio e souber diferenciar aquilo que é bom daquilo que não é, não há necessidade de se enfiar nesse mundinho de gente entediante e repetitiva.
E por último, se o tempo passar e a Natasha nunca tomar gosto pelos filmes que você gostaria, não fique triste. A função principal do Cinema é entretenimento, então, se ela só se interessar por comédias românticas, por exemplo, cabe a você obrigá-la a só assistir as boas=P
Caso contrário, ponha ela de castigo!
P.S: e pare de implicância, que HSM é legal.
Nada é mais libertador do que não ter medo de assumir os gostos e preferências. Dane-se o mundo. Mas entendo o que vc diz, na faculdade eu tinha vergonha de dizer que achava Godard um chato e o Charles Bukowski ( que eu sei que vc gosta) superestimado...enfim...cada um é cada um mesmo.
Hj, na vida e na arte não tenho vergonha nenhuma de dizer do que gosto...dá-lhe Fellini, Chico, comédias românticas, festa do Oscar ( eita coisa mais "guilty pleaseure"-heheh)...libertador!!!
Hahaha Como eu amo essas minhas pessoas!
Alana, sabe que por incrível que pareça ela não gosta de High School Musical? Mas adora aqueles filminhos de Populares x nerdes-alunas-novas. E o traço infantil que restou dela é que ela assiste 500 vezes o mesmo filme, meio se recusando a coisas novas. Mas já entrou na fase em que cinema é um programa legal, então não escapa de ver coisas boas.
Edson, eu conheço bem as nossas culpas e, vamos combinar, nós dois escondemos váaaarios gostos inconfessáveis. Festa do Oscar? Como assim? Eu me preparo dias antes para toda a Award Season. Vejo TUDO: Golden Glob, SAG, BAFTA's, Oscars, tudo! Não perco por nada nesse mundo, acho que já fazia isso na outra vida. haaha!
E eu nem citei Big Brother.
Quanto ao velho Bukowski, não se engane tanto. Eu acho que ele escreve diálogo como ninguém, mas também não sou exatamente membro do fan club. Não esqueça que eu sou antes de mais nada uma grande leitora de orelha de livros. hahahah!
Laice. O comment foi ótimo e objetivo. :)
Bom dia.
Isso aí! Nada de rótulos ou aquele papinho extremista de oito ou oitenta. O bom do meio termo, é que ele está no meio.(tá, essa foi péssima!) Hahahahaha!!!!!
Beijo
Rocha, minha mãe sempre disse que "A virtude está no meio". Não sei quem inventou que o que tá no meio é o mineiro!
Libriano é foda. Eu que o diga. Vê defeito onde só tem virtude, e a recíproca claro, é verdadeira. Experimente defender ou atacar alguma causa perto de um libriano, e vc vai entender o que estou dizendo. É mais forte que a gente.
Quanto à questão da sua filha, veja bem, tem dois lado a considerar... hehehe!
bj grande
Imagina nós dois discutindo, Swain? Hahaha! Um libriano de cada lado, os dois aceitando todos os lados.
A gente discutiu aluma vez? Acho que não...na verdade acho que é impossível.
Aliás, você faz parte do grupo de pessoas do outro lado do muro que me modificou lá pelos 19 anos.
Se eu não disse isso na época, presta atenção: foi um prazer. :)
Beijo beijo
Ahhh tia, qual o problema de assistir o mesmo filme milhares de vezes? Eu faço isso sempre, adoro! E acho que não sou mais adolescente (será?). Já li todas os pensadores que o mundo acha "cult"e importante na minha profissão, leio crítica econômica e posso dar risada do que a Miriam Leitão fala, com fundamento, mas tô lendo Princess Diaries III (sim, em inglês pq eu até tento dizer que não é pela história da Mia, é porque a linguagem é legal para praticar o idioma - ahã.. tá!)
Ahahahahaha, deixa ela crescer, deixa ela aproveitar:D Eu até hoje não saí da fase!:D
bjo bjo
Anne, claro que eu deixo!
Quem sou eu pra cortar a adolescencia de alguém? Deixa eu ver...
. eu não sonho acordada
. eu não vejo comédia romântica
. eu nunca escrevi uma história de amor impossível e boboca
. eu não morro de chorar vendo amores impossíveis em filmes
. eu não vivo meus delírios
. eu não ajo como se tivesse 17 anos
. eu não leio livro de vampiro até as 6 horas da manhã...
Ah ta. Então eu posso.
:p
I feel the same. Kisses :)
Ah..ainda bem que: eu chorei escondida no banheiro por amores perdidos....que eu assisti comedias romanticas...que eu tirei fotos com flores no cabelo...que eu ouvi as musicas que eu quis ouvir....porque se assim nao tivesse sido..eu não teria ...aos 47 anos sentido o meu coração doer quando li a série Twilight...Viva a adolescência!....Viva a Liberdade de sentir...chorar...pensar...amar....! pq quando alguns poucos anos passam e outros nos chegam....toda essa sede de explosão vai colidir com o mundo das pessoas grandes....e ai sim...que venha a intelecualidade!
um bj
ah eu era mais cdf adolescente
mas eu gosto de buñel . win wenders .eu sartre ... :)
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