segunda-feira, março 10, 2008

O oco

foto bem velha

Oh my...oh my...estou me tornando repetitiva! Já até publiquei post antigo que todo mundo já leu. Crise criativa. Writer's block. Branco total radiante. Chame como quiser.
Eu chamo de "o grande oco das palavras". É quando elas crescem e tornam-se assustadoramente monstruosas e eu fico minúscula diante delas. Se eu ouso encará-las descubro que elas se organizam de forma a criar um vácuo de proporções imensuráveis: o grande oco. Um mistério.
Elas nunca me faltaram mas hoje eu confesso, não sei como encontrá-las. Paro em frente ao espelho, dou aquele sorrisinho de começo de conversa...olho de novo...espero ouvir o som da minha voz, mas...nada. Silêncio. Não há palavra a ser dita.
Já não posso dizer o mesmo sobre o meu carro. Ah, não! No carro elas vêm fácil! Acho que vou começar a gravar o que elas dizem na marginal, porque parece ser seu lugar preferido. Hoje elas disseram coisas incríveis e me ensinaram o que eu meio que sabia, mas não era capaz de verbalizar:
"A crise criativa não é causada pela falta de uma paixão. Se apaixonar é inventar um ser perfeito onde havia apenas uma pessoa. Logo, a falta da paixão é que é causada pela ausência da criatividade."

E eu entendi tudo...

Foi dirigindo na marginal também que eu a vi terminando de fechar o ziper lateral do vestido preto decotado nas costas que tornava sua pele ainda mais branca e perfeita; tirou o excesso de batom, soltou alguns fios do cabelo, pegou a pequena bolsa e foi para o corredor. Parou no alto da escada, desceu lentamente os dois primeiros degraus, olhou para ele ali parado, olhos brilhando...perguntou:
- How do I look?
Sem desviar o olhar ele esticou o braço para recebê-la e respondeu:
- Mine.

Foi no carro também que ele riu do CD que estava tocando e disse que ela era muito mais retardada do que ele imaginava; e ela provou por A mais B que ele era preconceituoso.
" Quando sua mãe cantava para você dormir, ela não pensava em cantarolar músicas elaboradas. Ela cantava uma melodia óbvia e simples que você foi capaz de repetir com um ano de idade e nunca mais esqueceu. Melodias óbvias e simples com letras fáceis acalmaram seu coração em momentos de medo ou de perda, e você aprendeu a gostar de música graças a elas. Existem milhares de formas de se dizer a mesma coisa. Eu posso elaborar e complicar a maneira de dizer "eu te amo", mas ainda vou estar dizendo "eu te amo". E se eu quiser que todo o universo entenda que eu te amo, é melhor dizer assim, da maneira mais popular. E popular é o que esta música é. Popular porque é capaz de ficar na cabeça de um grande número de pessoas. E só consegue essa mágica por ser óbvia, simples, e dizer o que quer com pequenos rodeios óbvios e simples. Olha só...vou te mostrar. Você ouviu esta música alguma vez? Não? Ótimo...feche os olhos e tente cantá-la junto com o CD..."
Surpreendentemente ele obedeceu e descobriu que era capaz de adivinhar a próxima nota, e a outra e a outra.
" Viu? É simples...o que não quer dizer que seja ruim. É como a música que a sua mãe cantava... você ouve a primeira nota e adivinha o final de cada frase...ISSO é MÚSICA capaz de mover a mim e a um intelectual, a você e ao homem mais simples. Ela existe pra mover pessoas. É puro instinto. O homem fez música antes de saber se comunicar. A capacidade de fazer música é inerente ao ser humano e vem de algum lugar que não passa pelo raciocínio lógico. Se você ouvir com a alma e não com o preconceito, toda música é pura...como os seus instintos."
E ele entendeu Akon e Justin Timberlake.
(posso rir? hahahahha)

Não sei quantos diálogos eu já travei nos sei la quantos kilômetros que separam minha casa dos Jardins, do Butantã ou de Moema. Quantos amores eu inventei, quantas cartas de despedida, quantos encontros improváveis, quantas mulheres diferentes...quanta coisa eu disse e pensei, mas deixei que o vento levasse embora junto com a fumaça do cigarro.
Talvez eu precise dirigir mais...talvez eu precise gravar esses momentos.

Tá complicado.

Bom dia.

9 comentários:

Rafaela Pedro disse...
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Anônimo disse...
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Anônimo disse...

teste tambem

Anônimo disse...

Como assim vc ainda não grava o que pensa na marginal???
Vc tem idéia do que pode estar nos privando? Claro que tem! Vc sabe tudo que passa na sua cabeça...
Faz favor!
Hehehehe

Enfim, adoro, mesmo quando vc acha que não tem nada a dizer, diz muito.
bjs

Flavia Melissa disse...

Eu ia dizer, PORRA, então grave!
Mas a Rafaela já disse isso ppor mim...

Vc já tinha me dito disso, de cenas inteiras que vem na sua cabeça enquanto vc dirige. Não disperdice essas oportunidades, grave tudo mesmo.

E adorei a conclusão sobre criatividade & paixão. Se existe ócio criativo, não existirá um oco criativo?

Taí.
Gostei.

Amo!

Pedro Rocha disse...

Liga não... é sempre bom reler seus textos.
E quanto às "cenas" que acontecem dentro da sua cabeça, dentro do seu carro nas suas idas e voltas:
Não pode nos privar disso!


: (

brincadeirinha...

Anônimo disse...

Seu texto animou meu dia (me fez rir) e o melhor é que eu o encontrei muito sem querer!

Parabéns pela boa escrita e pelas ótimas tiradas... *Não é nada fácil entender Akon e Justin Timberlake!!!!!!Hahhahaa

Ps. Minhas melhores idéias surgem quando estou dirigindo!

MgMyself disse...

Karime, isso sempre me deixa feliz. Adoro quando alguém me acha sem querer e se sente assim. Volte!!!

Rocha, don't worry, eu nunca pensei em privar vocês de coisa nenhuma. Depois das barbaridades que eu já disse aqui, somo íntimos demais para eu conseguir esconder meus ataques. ;)

Fla, de quem era uma música que gritava "QUERO VER O OCOOOO!" Rimundos? hahaha! Eu sou super erudita!

Beijos, vocês.

Anônimo disse...

Escreve pra nós lourinha...